A FUGA
(Fernando Sabino)
1. Mal o pai colocou o papel na máquina, o menino começou a empurrar uma cadeira pela sala, fazendo um barulho infernal.
2. – Para com esse barulho, meu filho – falou, sem se voltar.
3. Com três anos, já sábia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas: não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira.
4. – Pois então para de empurrar a cadeira.
5. – Eu vou embora – foi a resposta.
6. Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras, no ato de juntar do chão suas coisinhas, enrolando-as num pedaço de pano. Era a sua bagagem: um caminhão de plástico com apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde diabo meteram a chave da despensa? – a mãe mais tarde irá dizer), metade de uma tesourinha enferrujada, sua única arma para a grande aventura, um botão amarrado num barbante.
7. A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente, o pai olhou ao redor e não viu o menino. Deu com a porta da rua aberta, correu até ao portão:
8. – Viu um menino saindo desta casa? – gritou para o operário que descansava diante da obra do outro lado da rua, sentado no meio-fio.
9. – Saiu agora mesmo com uma trouxinha – informou ele.
10. Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando cabisbaixo ao longo do muro. A trouxa, arrastada no chão, ia deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o botão, o pedaço de biscoito e – saíra de casa prevenido – uma moeda de 1 cruzeiro. Chamou-o, mas ele apertou o passinho, abriu a correr em direção à Avenida, como disposto a atirar-se diante do ônibus que surgia à distância.
11. – Meu filho, cuidado!
12. O ônibus deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus cantaram no asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço como a um animalzinho:
13. – Que susto você me passou, meu filho – e apertava-o contra o peito, comovido.
14. – Deixa eu descer, papai. Você está me machucando.
15. Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas:
16. – Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai.
17. – Me larga. Eu quero ir embora.
18. Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala – tendo antes o cuidado de fechar a porta da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa.
19. – Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando.
20. – Fico, mas vou empurrar está cadeira.
21. E o barulho recomeçou.
I – Marque com um X a alternativa correta:
1. Em: “Mal o pai colocou o papel na máquina…” (par. 1), a palavra em destaque pode ser substituída por:
a. ( ) à medida que
b. ( ) assim que
c. ( ) uma vez que
d. ( ) depois que
2. Em: “A calma que baixou então na sala…” (par. 7), as palavras grifadas significam, respectivamente:
a. ( ) silêncio/passou
b. ( ) calor/ameaçou
c. ( ) silêncio/espalhou-se
d. ( ) tristeza/esbarrou
3. Em: “… era vagamente inquietante.” (par. 7), a palavra grifada refere-se àquilo que:
a. ( ) causa desconforto
b. ( ) provoca medo
c. ( ) causa intranqüilidade
d. ( ) provoca tristeza
4. Em: “… caminhando cabisbaixo…” (par. 10), a palavra grifada pode ser substituída por:
a. ( ) com o rosto entristecido
b. ( ) com a cabeça baixa
c. ( ) com o rosto voltado para trás
d. ( ) com os cabelos no rosto
5. Em: “… saíra de casa prevenido…” (par. 10), a palavra grifada significa:
a. ( ) avisado
b. ( ) antecipado
c. ( ) atordoado
d. ( ) preparado
6. Em: “… o menino, assustado, arrepiou carreira.” (par. 12), a expressão grifada significa:
a. ( ) parou imediatamente
b. ( ) suou frio
c. ( ) voltou correndo
d. ( ) ficou com os cabelos eriçados
7. Em: “O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço…” (par. 12), as formas verbais assinaladas significam, respectivamente:
a. ( ) correu para a frente / recolheu b. ( ) desorientou / afastou
c. ( ) pulou para trás / procurou d. ( ) desequilibrou / segurou
8. Em: “Irresoluto, o pai pensava…” (par. 15), a palavra grifada significa:
a. ( ) alterado
b. ( ) pálido
c. ( ) tranqüilo
d. ( ) indeciso
9. O fato de o menino ter começado a empurrar a cadeira no momento em que o pai colocou o papel na máquina indica que o menino:
a. ( ) não gostava do barulho da máquina de escrever
b. ( ) queria chamar a atenção do pai para si
c. ( ) era um menino muito brincalhão
d. ( ) queria aproximar-se da máquina para ver o pai
10. Ao dizer que o menino reagira à injustiça do pai, o narrador compara a atitude da criança à:
a. ( ) de uma pessoa adulta
b. ( ) de uma criança mais velha
c. ( ) de outra criança da mesma idade d. ( ) de um adolescente
11. Ao dizer “Eu vou embora…” (par. 5), menino estava pensando em:
a. ( ) sair da sala
b. ( ) fugir de casa
c. ( ) ir para a escola
d. ( ) ir para o quarto
12. No texto há quatro momentos distintos no que se refere às atitudes do pai para com o filho. São eles, por ordem de acontecimento:
a. ( ) preocupação, remorso, impaciência, atenção
b. ( ) desatenção, aflição, zanga, precaução
c. ( ) zanga, indiferença, remorso, precaução
d. ( ) remorso, indiferença, zanga, aflição
13. A frase “… onde diabo meteram a chave da despensa? “(par. 6) indica a fala:
a. ( ) do menino
b. ( ) do pai do menino
c. ( ) da mãe do menino
d. ( ) do narrador
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