quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Interpretação de texto – “A fuga”

A  FUGA

(Fernando Sabino)

1.         Mal o pai colocou o papel na máquina, o menino começou a empur­rar uma cadeira pela sala, fazendo um barulho infernal.

2.          – Para com esse barulho, meu filho – falou, sem se voltar.

3.          Com três anos, já sábia reagir como homem ao impacto das grandes injustiças paternas: não estava fazendo barulho, estava só empurrando uma cadeira.

4.          – Pois então para de empurrar a cadeira.

5.          – Eu vou embora – foi a resposta.

6.          Distraído, o pai não reparou que ele juntava ação às palavras, no ato de juntar do chão suas coisinhas, enrolando-as num pedaço de pano. Era a sua bagagem: um caminhão de plástico com apenas três rodas, um resto de biscoito, uma chave (onde diabo meteram a chave da despensa? – a mãe mais tarde irá dizer), metade de uma tesourinha enfer­rujada, sua única arma para a grande aventura, um botão amarrado num barbante.

7.         A calma que baixou então na sala era vagamente inquietante. De repente, o pai olhou ao redor e não viu o menino. Deu com a porta da rua aberta, correu até ao portão:

8.        – Viu um menino saindo desta casa? – gritou para o operário que descansava diante da obra do outro lado da rua, sentado no meio-fio.

9.          – Saiu agora mesmo com uma trouxinha – informou ele.

10.        Correu até a esquina e teve tempo de vê-lo ao longe, caminhando cabisbaixo ao longo do muro. A trouxa, arrastada no chão, ia deixando pelo caminho alguns de seus pertences: o botão, o pedaço de bis­coito e – saíra de casa prevenido – uma moeda de 1 cruzeiro. Chamou-o, mas ele apertou o passinho, abriu a correr em direção à Avenida, como disposto a atirar-se diante do ônibus que surgia à distância.

11.        – Meu filho, cuidado!

12.        O ônibus deu uma freada brusca, uma guinada para a esquerda, os pneus cantaram no asfalto. O menino, assustado, arrepiou carreira. O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço como a um ani­malzinho:

13.        – Que susto você me passou, meu filho – e apertava-o contra o peito, comovido.

14.        – Deixa eu descer, papai. Você está me machucando.

15.        Irresoluto, o pai pensava agora se não seria o caso de lhe dar umas palmadas:

16.        – Machucando, é? Fazer uma coisa dessas com seu pai.

17.        – Me larga. Eu quero ir embora.

18.       Trouxe-o para casa e o largou novamente na sala – tendo antes o cuidado de fechar a porta da rua e retirar a chave, como ele fizera com a da despensa.

19.        – Fique aí quietinho, está ouvindo? Papai está trabalhando.

20.        – Fico, mas vou empurrar está cadeira.

21.         E o barulho recomeçou.

I – Marque com um X a alternativa  correta:

1. Em: “Mal o pai colocou o papel na máquina…” (par. 1), a palavra em destaque  pode ser substituída por:

a. (    ) à medida que        

b. (    ) assim que

c. (    ) uma vez que         

d. (    ) depois que

2. Em: “A calma que baixou então na sala…” (par. 7), as palavras grifadas significam, respectivamente:

a. (    ) silêncio/passou                            

b. (   ) calor/ameaçou

c. (    ) silêncio/espalhou-se                   

d. (   ) tristeza/esbarrou

3. Em: “… era vagamente inquietante.” (par. 7), a palavra grifada refere-se àquilo que:

a. (   ) causa desconforto                       

b. (   ) provoca medo

c. (   ) causa intranqüilidade                  

d. (   ) provoca tristeza

4. Em: “… caminhando cabisbaixo…” (par. 10), a palavra grifada pode ser substituída por:

a. (   ) com o rosto entristecido                 

b. (   ) com a cabeça baixa

c. (   ) com o rosto voltado para trás         

d. (   ) com os cabelos no rosto

5. Em: “… saíra de casa prevenido…” (par. 10), a palavra grifada sig­nifica:

a. (   ) avisado              

b. (   ) antecipado

c. (   ) atordoado          

d. (   ) preparado

6. Em: “… o menino, assustado, arrepiou carreira.” (par. 12), a expressão grifada significa:

a. (   ) parou imediatamente              

b. (   ) suou frio

c. (   ) voltou correndo                        

d. (   ) ficou com os cabelos eriçados

7. Em: “O pai precipitou-se e o arrebanhou com o braço…” (par. 12), as formas verbais assinaladas significam, respectivamente:

a. (   ) correu para a frente / recolheu          b. (   ) desorientou / afastou

c. (   ) pulou para trás / procurou                 d. (   ) desequilibrou / segurou

8. Em: “Irresoluto, o pai pensava…” (par. 15), a palavra grifada sig­nifica:

a. (   ) alterado       

b. (   ) pálido      

c. (   ) tranqüilo        

d. (   ) indeciso

9. O fato de o menino ter começado a empurrar a cadeira no momento em que o pai colocou o papel na máquina indica que o menino:

a. (   ) não gostava do barulho da máquina de escrever

b. (   ) queria chamar a atenção do pai para si

c. (   ) era um menino muito brincalhão

d. (   ) queria aproximar-se da máquina para ver o pai

10. Ao dizer que o menino reagira à injustiça do pai, o narrador compara a atitude da criança à:

a. (   ) de uma pessoa adulta                     

b. (   ) de uma criança mais velha

c. (   ) de outra criança da mesma idade    d. (   ) de um adolescente

11. Ao dizer “Eu vou embora…” (par. 5), menino estava pensando em:

a. (   ) sair da sala           

b. (   ) fugir de casa

c. (   ) ir para a escola     

d. (   ) ir para o quarto

12. No texto há quatro momentos distintos no que se refere às atitudes do pai para com o filho. São eles, por ordem de acontecimento:

a. (   ) preocupação,  remorso, impaciência, atenção

b. (   ) desatenção, aflição, zanga, precaução

c. (   ) zanga, indiferença, remorso, precaução

d. (   ) remorso, indiferença, zanga, aflição

13. A frase “… onde diabo meteram a chave da despensa? “(par. 6) indica a fala:

a. (   ) do menino                   

b. (   ) do pai do menino

c. (   ) da mãe do menino     

d. (   ) do narrador

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